19/07/2012

Como ensinar o uso de marcadores temporais na produção de textos


Ajude os alunos a identificar e compreender a ordem dos acontecimentos em uma história e produzir textos com indicações de passado, presente e futuro




Ontem, eu era pequenina, diz Marina. Ontem, nós éramos crianças, diz Mariana." Os versos fazem parte da poesia As Duas Velhinhas, de Cecília Meireles (1901-1964) (Ou Isto ou Aquilo, 96 págs., Ed. Nova Fronteira, tel. 21/3882-8200, edição esgotada). Nela, as amigas Marina e Mariana conversam sentadas na varanda de uma casa e, enquanto comentam sobre como a tarde é linda, relembram o passado. 

Para quem já domina a língua, pode parecer simples situar os acontecimentos no tempo, como fazem as protagonistas do texto acima citando o "ontem" e utilizando o tempo verbal no passado. Mas trata-se de uma competência a ser adquirida e aprimorada nos primeiros anos do Ensino Fundamental. 

Pensando na importância desse conteúdo, Rosiane Ribeiro Justino e Gabriela Maia Fischer, professoras de 2º e 3º anos na EM Prefeito Wittich Freitag, em Joinville, a 177 quilômetros de Florianópolis, propuseram a análise dos termos que remetem ao passado utilizados em diversos contos de fada. Depois, a turma escreveu sua própria versão de Branca de Neve. O passo a passo dessa atividade você conhece no quadro à esquerda. Outro trabalho sobre o tema, realizado pelos estudantes do 5º ano da EMEF Professor Rosalvito Cobra, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, está descrito no quadro das páginas seguintes. A turma aprendeu com a professora Daniella Crocce a organizar informações sobre o Egito antigo. O produto final foi a elaboração de uma minienciclopédia. 

Nos dois casos, textos de diferentes gêneros - informativos e literários - foram usados para estudar o assunto e renderam experiências interessantes. Jaime Baratz, docente da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), sugere que nas séries iniciais o trabalho envolva o uso de advérbios como "hoje", "amanhã" e "ontem". Mais adiante, no 4º e no 5º ano, é esperado que os alunos já tenham domínio dessas expressões e possam usar outras mais elaboradas, que indiquem sucessão, duração e simultaneidade, como "depois disso", "durante" e "enquanto isso". 

Os termos citados por Baratz são alguns dos chamados marcadores temporais, palavras de diversas classes e funções sintáticas, como as descritas a seguir. 

- Advérbios "Ontem", "hoje", "amanhã", "já", "agora", "logo", "cedo", "tarde", "outrora", "breve", "nunca", "sempre", "jamais". 

- Locuções adverbiais Duas ou mais palavras com valor de advérbio, como "às vezes", "em breve", "à noite", "à tarde", "de manhã", "de quando em quando". 

- Conjunções Aquelas que dão a ideia de progressão na história que está sendo contada, como "enquanto isso", "depois disso", "logo que", "assim que". 

- Preposições "Durante", "após" etc. 

Ao lado das datas e dos tempos verbais, eles dão pistas sobre quando aconteceram os eventos relatados na composição. Na sala de aula, a análise dessas expressões costuma erroneamente ficar restrita aos momentos de revisão da escrita da criança, quando o texto está sendo finalizado. Porém, quando essa atividade faz parte de etapas anteriores - do planejamento, dos momentos de reescrita e de escrita de autoria, e ainda é objeto de reflexão durante a leitura de produções de outros autores -, os textos ficam mais coesos e recheados de termos apropriados para transmitir informações sobre o tempo das coisas. "Abordar o tema dos marcadores temporais em diferentes etapas do trabalho ajuda a organizar o discurso e colabora para o aperfeiçoamento da escrita, evitando que ocorra uma série de equívocos", explica Ana Flávia Alonço, assessora da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. "Muitas fábulas, por exemplo, se passam no decorrer de um dia. Já os contos de fadas, em geral, requerem uma duração maior e contam com termos como 'era uma vez' e 'há muito, muito tempo'", exemplifica Claudia Tondato, professora da EMEF Professor Rosalvito Cobra, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo.
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