01/08/2012

CARACTERIZANDO A NARRAÇÂO


Leia:

Linda de morrer

   O pai resolveu abrir uma funerária.
   - Tem muita gente morrendo. É  negócio de futuro!
   Ao que a mãe acrescentou:
   - Gente que nunca morreu tá morrendo...
  O filho perdeu a paciência.
   - Dá pra parar com as piadinhas sem graça? Abrir um negócio não é brincadeira não.
  O pai sorriu condescendente. sabia que o filho estava bem-intencionado. mas é que o rapaz tinha acabado de concluir um desse MBAs da vida, e só conseguia raciocinar em termos mercadológicos.
   - Calma, filho. Você só fala de critérios, métodos, empredorismo...não sei em falar esse troço.
   - Empreendedorismo, pai.
   - Pois é. estou querendo por o nome de " funerária Vai com Deus."
   - Pelo amor de Deus!
   - Também é bom, mas "Vai com Deus" é melhor.
   - Não, pai, pelo amor de Deus, não põe um nome desses!
   E olhou ansioso pra mãe, pedindo socorro. a mãe nem tchum.
   - Acho que é um nome interessante, filho. diferente. Ousado.
  O pai respondeu:
   - Imaginem só o slogan: " Na hora de morrer, "Vai com Deus".
   A mãe soltou uma gargalhada.
   - Você dois parem com isso! - o filho já estava vermelho. - Que coisa mórbida! Vamos pensar com um mínimo de...
   - Empredee... dorismo...
   - Do... rimos!
   - Doritos!
   - Empreendedorismo! - o filho berrou.
   - Ah é. Quer ver outro nome bom? Funerária sete Palmos...
   - Passagem de Ida! - a mãe entrou na tabela.
   - Último Adeus! - o pai emendou.
   Agora os dois já riam solto. O filho olhando pro chão, besta. Já estava calculando os prejuízos.
   O pai não parava.
   - "Funerária Último Adeus: uma empresa linda de morrer".
   - Uma empresa linda de morrer! - a mãe, repetiu, saboreando cada palavra.
   - Linda de morrer... - o filho repetiu, mordendo as palavras. - nem Freud explica vocês dois...
   - Engano seu, filho. Você sabia que o Freud era fanático por humor negro? Ele adorava o anúncio de uma funerária americana que falava assim: " Pra que viver, se você pode ser enterrado por dez dólares?"
   - Sensacional! - a mãe já batia as mãos na mesa, de tanto rir.
   - E  lembra  aquele  cemitério  que  tinha  um  slogan assim: "Se você não pode saber quando, sabia   pelo menos onde". dessa vez, até o filho deixou escapar uma risada:
   - É verdade. essa propaganda eu lembro. Engraçado, na época eu achei esse slogan muito bom. É claro que eu não tinha conhecimentos de ...
   - Perdedorismo...
   - Predadorismo...
   - O  filho  saiu  batendo os  pés, resmungando  para  si  mesmo:  posicionamento,  agregação, downsizing, rightsizing e, acima de tudo, empreendedorismo. seu paia nunca ia mesmo dar conta daquelas palavras lindas de morrer.
                                                                    CUNHA, Leo. manual de Desculpas Esfarrapadas. São Paulo: FTD, 2004.p.75-77


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Atividade
1) Qual a característica principal deste texto?
2) Que recurso o autor usa pára dar agilidade ao caso?
3) Qual o gênero deste texto?

Gabarito
1) Posivelmente, a grande maioria achará o texto humorístico: é divertido o desencontro de opiniões do filho, com relação aos pais; é engraçado o pai não conseguir, mas tentar sempre, falar determinada palavra; é cômica a sequência de nomes aventados para a funerária.
2) Há um largo uso de diálogos(ou discurso direto), com poucas intervenções do narrador.
3) crônica, pois se trata de de uma situação do cotidiano.
                                                                                         AAA3 - gêneros e tipos textuais, versão do aluno, p. 62 e 63



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